Foram noites pulsantes aquelas dos anos 20 na Casa de uma rua discreta, ainda sem nome, perto da Avenida Paulista dos casarões de Barões do Café, na fervilhante São Paulo Modernista.
Lá estava Augusta. Mulher cálida de olhos penetrantes, altiva e de natureza serena, nasceu na Ilha de Malta, filha de um corsário e uma cigana. Logo jovem, herdeira da fortuna da mãe, empreendeu uma jornada mundo afora onde adquiriu as habilidades e destrezas do lidar com o íntimo.
Na Normandia aprendeu o Spanking, de sua peregrinação ao Kilimanjaro, aprendeu a arte de usar o couro, e no Extremo Oriente conheceu os mistérios do Shibari. Por fim veio a São Paulo onde estabeleceu residência.
Conhecida por sua elegância singular e por circular nas mais bem faladas esferas da alta sociedade paulistana, Augusta era de temperamento impassível. Falava somente o necessário e suas opiniões possuíam peso e certeza. O pouco que falava, instigava e atraía, seduzia e Dominava.
Seu casaril, excêntrico e exuberante recebeu pelos neófitos a alcunha de “Culto sem Nome”, pelos curiosos era conhecida como “Casa de Augusta” e pelos frequentadores, pontualmente chamada de “Dominatrix”. E era nesta casa que aconteciam as sessões desejantes da Dominatrix Augusta. Não foram poucas as almas profundas de homens e mulheres que se renderam aos caprichos envolventes e sedutores de Augusta.
Com Augusta aprenderam a importância da proteção e junto a ela, o valor da gratidão, que os levou à devoção, e que gerou submissão. Lá ficavam entregues à voz dominante que se impunha com mão de ferro num reino de prazeres, na mais sofisticada perversão, dor e delícia.
Os frequentadores da casa de Augusta buscavam a fuga do Mundo Racional: o Sonho da Razão produz Monstros – diziam. Sendo assim, a Casa de Augusta tornou-se refúgio de artistas, poetas, intelectuais, gays amigos de Augusta e que alí eram protegidos, vanguardistas e toda a espécie de seres desejantes.
Senhora protetora e guardadora dos segredos da intimidade e dos fetiches, Augusta triunfou praticamente soberana na noite paulistana daqueles anos fugazes do “Modernisme” paulistano.
Dizem as vozes mais esclarecidas que os grande nomes da Semana de 22 passaram pela Casa de Augusta e tiveram lá alimento para suas almas e fonte de inspiração.
As memórias inúmeras da Casa de Augusta se perpetuaram. Muitas são as lembranças e lendas, histórias e memórias secretas de entrega, desejo, dominação e transcendência sublimes de desejo e perversão de Dominatrix.
2015. Após anos oculta na metrópole, a Casa de Augusta, ou Dominatrix volta a brilhar puljante. Lá estão as memórias daqueles que intensamente viveram. Espaço destinado aos novos fetichistas da metrópole Complexa, a Casa está novamente aberta à visitação para todos os corações que desejam dominar, se entregar e celebrar os fetiches e as realizações sublimes da alma humana.